Você sabe a forma mais simples de evitar infecções relacionadas à assistência à saúde?
Jonatam Rodrigo Crispim Rocha
A higienização das mãos é um assunto sempre abordado e que está presente nos meios de discussão sobre saúde, contaminação e transmissão de doenças. Ela é conhecida como uma das medidas primárias de prevenção de contaminações gerais e no controle de infecções relacionadas à assistência à saude (IRAS). Mas por que um assunto tão falado repetidas vezes com inúmeros estudos ainda se perpetua no meio? Qual a importância de se higienizar as mãos? Como toda essa discussão sobre assunto teve origem? As mãos realmente tem todo esse potencial para transmissão de patógenos?
Inicialmente faz-se necessário conhecer um personagem importante do meio da saúde, o médico húngaro Ignaz Philip Semmelweis que, em 1846, comprovou a íntima relação da febre puerperal com os cuidados médicos. Ele relacionou e a febre puerperal que afetava tantas parturientes fosse causada por “partículas cadavéricas” transmitidas da sala de autópsia para a ala obstétrica por meio das mãos de estudantes e médicos. Por volta de maio de 1847, ele insistiu que estudantes e médicos lavassem suas mãos com solução clorada após as autópsias e antes de examinar as pacientes da clínica obstétrica. No mês seguinte após esta intervenção, a taxa de mortalidade caiu de 12,2% para 1,2%. Dessa forma, Semmelweis, por meio do primeiro estudo experimental sobre este tema, demonstrou claramente que a higienização apropriada podia prevenir infecções puerperais e evitar mortes maternas.
Para entendermos melhor a relação entre contaminação e higienização das mãos faz-se necessário conhecermos o conceito de microbiota transitória, residente e infecciosa. Podemos caracterizar a microbiota residente como a aquela que está aderida às camadas mais profundas da pele, é mais resistente à remoção apenas com água e sabão. Os micro-organismos que compõem esta microbiota são agentes menos prováveis de infecções veiculadas por contato. Já a microbiota transitória coloniza a camada superficial da pele, sobrevive por curto período de tempo e é passível de remoção pela higienização simples das mãos com água e sabão, por meio de fricção mecânica. A microbiota transitória consiste de micro-organismos não patogênicos ou potencialmente patogênicos, tais como bactérias, fungos e vírus, que raramente se multiplicam na pele. No entanto, alguns deles podem provocar infecções relacionadas à assistência à saúde. E ainda temos a microbiota infecciosa onde incluímos nesse grupo micro-organismos de patogenicidade comprovada, que causam infecções específicas como abscessos, paroníquia ou eczema infectado das mãos. As espécies mais frequentemente encontradas são Staphylococcus aureus e estreptococos beta-hemolíticos.
Mesmo com a história de Semmelweis sendo da metade do século XIX, conhecendo as microbiotas, por que o índice de contaminação via mãos continua tão grande?
Essa resposta é simples, a adesão e a forma correta de ser realizada!
Em vários estudos realizados com profissionais de saúde e com a população geral vêm demonstrando que embora se tenha o conhecimento da importância, a adesão ainda é baixa. Muitos em seu dia-a-dia não fazem corretamente e nos momentos oportunos, de forma que hoje as infeções ceifam vidas de milhares de pessoas e podem ser prevenidas muitas vezes com ações simples e constantes, tanto no âmbito geral e principalmente no âmbito clínico-hospitalar.
Assim sendo, a ANVISA, órgão máximo de regulação em saúde, recomenda que a higienização das mãos para a população em geral deve ser:
- Antes de qualquer refeição;
- Antes e após usar o banheiro;
- Antes e após manipular alimentos crus;
- Após espirrar, tossir ou mexer no nariz;
- Após tocar em animais ou nos seus dejetos;
- Após mexer no lixo;
- Antes e após uma visita a um doente;
- Antes e após tocar em feridas;
- E sempre que as mãos estiverem sujas.
Para os profissionais de saúde além das recomendações acima citadas a higienização simples das mãos deve ser realizada:
- Quando as mãos estiverem visivelmente sujas ou contaminadas com sangue e outros fluidos corporais;
- Ao iniciar e terminar o turno de trabalho;
- Antes do preparo e manipulação de medicamentos;
- Antes e após contato com paciente colonizado ou infectado;
- Após várias aplicações consecutivas de produto alcoólico;
- Antes e após o contato com o paciente e seus pertences;
- Antes de realizar procedimentos assistenciais e manipular dispositivos invasivos;
- Antes de calçar luvas para inserção de dispositivos invasivos que não requeiram preparo cirúrgico;
- Após risco de exposição a fluidos corporais;
- Ao mudar de um sítio corporal contaminado para outro, limpo, durante o cuidado ao paciente.
Vale ressaltar que, tanto a para a população em geral quanto para os profissionais de saúde, a lavagem de mãos pode ser substituída por álcool gel ou glicerinado. Essas soluções alcoólicas deve estar entre 60 e 80%, para que haja uma ação mais efetiva e que concentrações mais altas são menos potentes, pois as proteínas não se desnaturam com facilidade na ausência de água.
E como deve ser realizada a higienização das mãos? Veja abaixo o cartaz da ANVISA, mostrando a correta técnica de higienização:
Assim faz-se necessário sempre um contínuo trabalho de conscientização da importância da higienização das mãos, um trabalho de educação contínuo e árduo com a população geral e ainda mais entre os profissionais da saúde. Não há justificativa que algo que já está concretizado há mais de século ainda não foi completamente implementado e usado rotineiramente.
Lavar mãos pode salvar vidas. Você já lavou as suas mãos hoje?
Entre em contato com nossa equipe e conheça as ações educacionais da Neoprospecta para aumentar a adesão à higienização das mãos em hospitais e clínicas.
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- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. Ministério da Saúde. Higienização das Mãos em Serviços de Saúde. Brasília, 2007.
- Escalante, M., Scussiato, L. Higienização das mãos. Anais do EVINCI – UniBrasil,. Disponível em <http://portaldeperiodicos.unibrasil.com.br/index.php/anaisevinci/article/view/161> [Acesso em 11 de setembro de 2016].
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Sobre o autor: Jonatam Rodrigo Crispim Rocha. Biomédico graduado pela Universidade Paulista, com período de intercambio na University of Eastern Finland como pesquisador pelo CNPq, pós graduando em MBA auditoria em Serviços de Saúde pela Estácio, atualmente gerente de qualidade e responsável técnico da Diagnóstica Catarinense.